Carece de coerência política a tese de que, mesmo com a saída de Orlando Silva do ministério do Esporte, a vaga continua sendo do PCdoB. Trocar o titular, acusado de desviar recursos dos programas da pasta para financiar o partido e manter no comando um integrante da legenda equivale a substituir o invasor do galinheiro por outro da mesma família - para usar uma imagem do gosto popular. As denúncias que afetam a pessoa física do ministro, também afetam a jurídica- indissociáveis neste caso.
Se a demissão de Silva baseia-se no fato de que o ministro perdeu a condição política elementar para permanecer no cargo, trocá-lo por um correligionário significa manter a suspeição de que o caixa do Esporte continua financiando o PCdoB. Enquanto não se esclarecer se o esquema desvendado pela polícia civil no ano passado, no correr da Operação Shaolin, efetivamente engordou os caixas do PCdoB, o partido não tem condição moral de conduzir a pasta, que, no momento, tornou-se estratégica para o país e para os planos re-eleitorais de Dilma Rousseff.
No entanto, é mais simples para o governo - e para o partido - sacrificar o homem do que arrebentar elo da aliança. Lançar Orlando Silva ao território enlameado dos corruptos que jamais conseguem restaurar o estargo na própria imagem é uma operação mais simples do que ofender um aliado histórico do PT, que apesar da pequena representação numérica, representa um símbolo da esquerda.
Dilma está sendo pressionada a trocar o ministro, e ignora, intencionalmente, que as denúncias afetam também o partido que ela promete manter no comando da pasta. O PCdoB, no limite do desespero, ameaça atirar contra o PT, mais especificamente contra o governador do Distrito Federal, Agnelo Queiroz, que, quando ministro do Esporte, teria instituído o esquema - segundo suspeita a polícia.
Sem passar a limpo esta embaralhada história, a simples troca no ministério do Esporte pode não resolver o problema do Brasil e da pasta, que é de credibilidade.
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