domingo, 17 de julho de 2011

Os conflitos entre pais e filhos



É preciso assumir os atritos e estabelecer o diálogo para solucioná-los


A imagem da família feliz, sem problemas aparentes, com pais sorridentes e filhos tranquilos, é muito comum em propagandas publicitárias (vide as de margarina). Longe do mundo perfeito apresentado na telinha, as famílias passam, no dia a dia, por situações desagradáveis, permeadas por conflitos que muitas vezes terminam em briga. E, calma, isso não significa que não haja amor.

Conceito fundamental na psicanálise, o Complexo de Édipo é considerado próprio da condição humana. Em resumo grosseiro, segundo as ideias de Freud, a criança, ao atravessar a idade fálica, ou seja, a partir da segunda infância, inicia a tomada de consciência das diferenças entre os sexos. O bebê, até então acostumado a ser o centro das atenções, passa a ser alvo de proibições sociais, antes por ele desconhecidas. A sexualidade começaria a ser definida a partir daí. O infante, em geral, passaria a sentir uma forte atração pelo sexo oposto - o menino pela mãe; a menina, pelo pai. Dessa forma, o outro genitor assumiria o papel de adversário, ou seja, ao mesmo tempo em que ama, a criança também hostiliza um dos pais. Tudo isso inconscientemente.
Popularmente, costuma-se dizer que a filha é mais ligada ao pai, enquanto o filho à mãe. Entre outras coisas, o Complexo de Édipo ajudaria a entender esses comportamentos aparentemente banais. A competição inconsciente seria motivo de muitos atritos entre pais e filhos. Essa ideia, no entanto, não é unânime. “Na psicologia, não se pode generalizar”, acredita a psicóloga Suzana Schettini. “O relacionamento entre pais e filhos não pode ser definido necessariamente como uma disputa”, ressalta.

Para a psicóloga, um dos maiores causadores de conflitos entre os genitores e seus rebentos é a confusão na fronteira entre a paternidade e a amizade. “Hoje existe muito essa ideia do pai-amigo. Mas é preciso lembrar que os pais precisam ficar no lugar de pais, o que não quer dizer que não possam ser companheiros dos seus filhos”, comenta. A psicóloga defende que os pais são figuras de autoridade, experiência, e que esse papel deve ser respeitado. 
Ela ressalta, no entanto, que o problema é a (comum) confusão, por parte dos genitores, entre os conceitos de autoridade e autoritarismo. Enquanto este é a imposição do poder à força, o primeiro significa o direito/poder de se fazer obedecer; pode ser definido também como influência, poder. E isso é parte do papel dos pais na vida dos filhos, pois, durante muito tempo, estes dependem emocional e financeiramente daqueles.

Se durante a infância e a adolescência a ordem dos mais velhos é soberana, quando adultos os filhos adquirem autonomia. Para alguns pais, no entanto, essa ideia não é facilmente assimilada. “Se um pai constrói sua vida totalmente em função dos filhos, isso vai causar muita frustração, pois vão existir cobranças e, assim, atritos”, acredita Suzana. “Quando o indivíduo atinge a idade adulta, a relação com os pais, normalmente, se modifica, torna-se mais horizontal, pois ele não tem que se subjugar às vontades deles”, completa.

É comum, nas famílias, muitas brigas começarem devido à irritação dos filhos quando recebem ordens dos pais, que muitas vezes consideram arbitrárias. Como explica Suzana Moeller, as crianças aprendem pela exemplificação. Dessa forma, cabe aos pais ter coerência nas suas atitudes. “O pai não pode exigir um comportamento da criança que ele próprio não tem”, afirma. Uma dica para os pais é não criticar tanto os filhos, pois as opiniões dos deles têm um peso grande para os rebentos.

Ainda segundo a psicóloga, é preciso que os pais estimulem a independência dos filhos, atribuindo-lhes responsabilidades, sempre com limites. Ela ressalta que a disciplina não implica falta de afeto, e, portanto, a relação deve ser permeada por amor e carinho. E, sim, desentendimentos são normais em qualquer relação; filhos podem sentir raiva momentânea dos pais e vice-versa, mas isso é prejudicial quando se torna rotineiro. Como sempre, o diálogo se apresenta como a melhor forma de solucionar os problemas.

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