segunda-feira, 4 de julho de 2011

COLUNA POLITICA


         Krause, o lado ousado de Itamar
Itamar Franco, que morreu sábado passado em São Paulo, aos 81 anos, era um político de gesto, ousado e corajoso. Uma das suas ousadias na Presidência da República, que assumiu num dos momentos de maior crise moral que o País enfrentou, decorrente dos escândalos que derrubaram Collor, foi ter apostado num nordestino para comandar a política econômica do seu Governo.
Itamar não queria entregar a Fazenda a São Paulo e pediu ao então governador de Pernambuco, Joaquim Francisco, a sugestão de um nome. “Eu levei um susto quando ele disse: “Joaquim indica o ministro da Fazenda”, porque seria quebrar um tabu muito grande tirar o controle da política econômica do eixo paulista”, lembra o ex-governador, que indicou o também ex-governador Gustavo Krause, que formou com o então ministro do Planejamento, Paulo Haddad, de Minas, o núcleo duro do governo.
Nem o próprio Krause, quando avisado por Joaquim, acreditou em tamanha ousadia. De Nova Iorque, o jornalista Paulo Francis, que tinha carregava no sangue e na alma exagerado preconceito contra nordestinos, debochou de Itamar, disse que ele formou um ministério de compadres e sugeriu que Krause era um Jeca Tatu.
É claro que não daria certo. Krause emprestou todo o seu talento, mas passou apenas quatro meses na função, boicotado pelo PIB nacional, os que sempre mandaram na economia e que não admitiam perder o seu controle. Itamar, entretanto, fez uma grande deferência com o Nordeste. E mesmo incompreendido entra para a história como o pai da estabilidade do País.
FECHAMENTO– Numa entrevista ao jornalista pernambucano Geneton Moraes Neto, o ex-presidente Itamar Franco contou bastidores do seu governo nunca revelados. Disse que políticos o procuraram para sugerir o fechamento do Congresso. “O Congresso enfrenta uma crise muito séria. Há corrupção generalizada na Comissão de Orçamento. É melhor fechar por um tempo”, sugeriram parlamentares, segundo relato do próprio Itamar, que não revelou o nome dos deputados.
Trabalho escravo - Mais um descaso do Governo com o Nordeste. Nas obras da transposição, o Ministério Público do Trabalho encontrou uma situação típica de trabalho escravo. “Eles estão em situação pior do que o gado”, disse o procurador Roberto Portela. Nem água potável a empreiteira Odebrecht oferece.

Cid estava coberto de razão - Em seis meses de Governo, a presidente Dilma enfrenta o primeiro grande escândalo. De uma canetada só, ela afastou, ontem, toda a cúpula do Ministério dos Transportes envolvida em corrupção. Os principais auxiliares do ministro Alfredo Nascimento foram pilhados cobrando 4% de propina das empresas prestadoras de serviço. O governador cearense Cid Gomes tinha razão quando disse que a pasta de Transportes é um antro de corrupção.
Vigiado e monitorado - Mas, o cabeça não caiu. A presidente Dilma resiste em demitir o ministro dos Transportes, Alfredo Nascimento. Preferiu dar-lhe um castigo. A partir de agora, não terá mais autonomia na distribuição de verba. Seu trabalho será monitorado por três ministros, entre eles Ideli Salvatti e Gleisi Hoffmann, do núcleo duro do governo.
Péssimo exemplo - Reportagem do jornal O Globo de ontem revela que em Pernambuco auditoria do Ministério da Saúde divulgada em junho constatou que 17% dos mamógrafos (equipamento para diagnosticar câncer de mama) da rede pública de saúde ou de clínicas conveniadas com o SUS estão quebrados. O SUS só consegue atender 12% das mulheres.

CURTAS
QUEM MENTE?– A Secretaria de Saúde de Pernambuco foi ouvida pelos repórteres de O Globo e negou. Garantiu que não há déficit de mamógrafos e que apenas 3% estão ociosos, por problemas de manutenção. Quem é o Pinóquio dessa estória?
MEMÓRIAS– O jornalista Mário Hélio está debruçado nas memórias do ex-governador Cid Sampaio, referência nacional pela obra que implantou no Estado. Cid morreu recentemente com quase 100 anos de vida e deixou um legado invejável.
VERGONHA– Os políticos brasileiros devem estar contentes com a reação do seu povo. A corrupção avança a passos largos, há escândalos em diversas prefeituras e governos e não se vê a massa saindo às ruas para protestar e cobrar vergonha de seus representantes.

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