a CIDADE DE QUEM TEM CARRO
Toda esta polêmica do estacionamento grátis está sendo bom para debatermos um dos aspectos mais importantes de Recife e também das grandes cidades: o uso do transporte individual em detrimento do transporte coletivo.
Que o transporte público em Recife é um lixo, não é segredo para ninguém. Talvez seja uma das poucas unanimidades que conhecemos.
Mas aí surge a pergunta: o que fazemos para melhorar nossa mobilidade urbana?
Não se faz serviço público decente sem a classe média utilizar. Pode parecer estranho, mas esta é uma constatação obvia. Quando o serviço é apenas para o pobre, a qualidade do serviço é a pior possível. Sei que não precisa ser assim, mas o fato é este. E independe de coloração partidária, pois é histórico.
Aqui em Recife não seria diferente. Até agora não há sequer uma discussão séria para a melhoria do transporte público partindo do setor público (ou pelo menos de quem mande de fato). Até existe algum planejamento, mas efetivamente não se vê uma obra sequer para implementação.
Nenhuma!
Falou-se em uns corredores de ônibus, mas nada se fez de concreto até agora. Todas as propostas apresentadas até agora foram para privilegiar o transporte individual, como a Via Mangue. Ninguém se dignifica a propor um corredor exclusivo de ônibus na Av. Domingos Ferreira, ou mesmo na Agamenon Magalhães, por um motivo simples: ninguém quer piorar um pouco a vida do dono de um carro para melhorar muito a vida de quem anda de ônibus.
Como as ruas não irão se alargar de uma hora para outra, é simplesmente impossível melhorar a mobilidade do ônibus sem piorar a do automóvel. Como vivemos em uma sociedade de mentira, não aparece um político sequer para colocar esta questão seriamente. Jogar o problema para o próximo prefeito é o esporte predileto do atual, seja ele quem for. O caos no trânsito não se instalou por causa de João da Costa. A bomba só estourou em suas mãos, que também não faz nada para discutir seriamente o assunto.
Aí surge essa discussão do estacionamento grátis, e fica evidente que o posicionamento do nosso setor público, no caso a Prefeitura, é no incentivo ao uso do transporte individual.

Carros e ônibus dividem o mesmo espaçoEsse fato ficou claro quando foi construída a ciclovia da Avenida Boa Viagem. O ex-prefeito JPLS, atendendo aos apelos da classe média por vagas à beira-mar, simplesmente mudou o projeto original no meio da obra, quando os postes já haviam sido instalados, deixando a ciclovia com o formato de serpente que temos hoje. É a pior ciclovia que já vi na vida. Tudo isto porque era preciso um estacionamento à beira-mar, deixando a orla mais confusa e feia, apenas para atender aos donos de automóveis.
Aqui vivemos o apartheid automobilístico. A partir do momento em que você possui um automóvel passa a ser considerado um cidadão de classe superior.
Enquanto em Londres se paga pedágio para andar de carro pelo centro da cidade, aqui em Recife taxamos o consumidor que efetivamente compra para subsidiar aquele que enxerga o shopping como playground. Como alguém vai pagar esta conta, será repassado no valor do condomínio, que irá parar no bolso do consumidor.
E não faltam aqueles que apresentam uma Lei Municipal como argumento, como se Lei não fosse para servir aos cidadãos. A Lei em questão, que obriga os estabelecimentos a terem estacionamento, já é um reflexo da miopia de parte da sociedade recifense e do Poder Público. Essa Lei é uma excrecência em termos de incentivo à coletividade, mas como não enxergávamos até a semana passada, tudo isso passava à margem. A discussão da constitucionalidade da Lei é o menos importante nisso tudo.
Agora ainda obrigam os donos de estacionamento, como é o caso do localizado ao lado do Paço Alfândega, que não pertence ao Shopping, a guardarem gratuitamente o automóvel de quem vai trabalhar no Porto Digital. Se você for no começo da tarde no Paço de carro, será obrigado a voltar para casa, porque não há uma vaga disponível sequer.
Ou pior ainda, obrigar o Hospital Português a ser o depósito de carros da torcida do Sport em dia de jogo.
Esse é o meu Recife.
Que o transporte público em Recife é um lixo, não é segredo para ninguém. Talvez seja uma das poucas unanimidades que conhecemos.
Mas aí surge a pergunta: o que fazemos para melhorar nossa mobilidade urbana?
Não se faz serviço público decente sem a classe média utilizar. Pode parecer estranho, mas esta é uma constatação obvia. Quando o serviço é apenas para o pobre, a qualidade do serviço é a pior possível. Sei que não precisa ser assim, mas o fato é este. E independe de coloração partidária, pois é histórico.
Aqui em Recife não seria diferente. Até agora não há sequer uma discussão séria para a melhoria do transporte público partindo do setor público (ou pelo menos de quem mande de fato). Até existe algum planejamento, mas efetivamente não se vê uma obra sequer para implementação.
Nenhuma!
Falou-se em uns corredores de ônibus, mas nada se fez de concreto até agora. Todas as propostas apresentadas até agora foram para privilegiar o transporte individual, como a Via Mangue. Ninguém se dignifica a propor um corredor exclusivo de ônibus na Av. Domingos Ferreira, ou mesmo na Agamenon Magalhães, por um motivo simples: ninguém quer piorar um pouco a vida do dono de um carro para melhorar muito a vida de quem anda de ônibus.
Como as ruas não irão se alargar de uma hora para outra, é simplesmente impossível melhorar a mobilidade do ônibus sem piorar a do automóvel. Como vivemos em uma sociedade de mentira, não aparece um político sequer para colocar esta questão seriamente. Jogar o problema para o próximo prefeito é o esporte predileto do atual, seja ele quem for. O caos no trânsito não se instalou por causa de João da Costa. A bomba só estourou em suas mãos, que também não faz nada para discutir seriamente o assunto.
Aí surge essa discussão do estacionamento grátis, e fica evidente que o posicionamento do nosso setor público, no caso a Prefeitura, é no incentivo ao uso do transporte individual.

Carros e ônibus dividem o mesmo espaço
Aqui vivemos o apartheid automobilístico. A partir do momento em que você possui um automóvel passa a ser considerado um cidadão de classe superior.
Enquanto em Londres se paga pedágio para andar de carro pelo centro da cidade, aqui em Recife taxamos o consumidor que efetivamente compra para subsidiar aquele que enxerga o shopping como playground. Como alguém vai pagar esta conta, será repassado no valor do condomínio, que irá parar no bolso do consumidor.
E não faltam aqueles que apresentam uma Lei Municipal como argumento, como se Lei não fosse para servir aos cidadãos. A Lei em questão, que obriga os estabelecimentos a terem estacionamento, já é um reflexo da miopia de parte da sociedade recifense e do Poder Público. Essa Lei é uma excrecência em termos de incentivo à coletividade, mas como não enxergávamos até a semana passada, tudo isso passava à margem. A discussão da constitucionalidade da Lei é o menos importante nisso tudo.
Agora ainda obrigam os donos de estacionamento, como é o caso do localizado ao lado do Paço Alfândega, que não pertence ao Shopping, a guardarem gratuitamente o automóvel de quem vai trabalhar no Porto Digital. Se você for no começo da tarde no Paço de carro, será obrigado a voltar para casa, porque não há uma vaga disponível sequer.
Ou pior ainda, obrigar o Hospital Português a ser o depósito de carros da torcida do Sport em dia de jogo.
Esse é o meu Recife.
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