Depois de muitos anos abastado, graças a esforços e méritos próprios fruto de trabalho suado que me fizeram migrar para uma classe social melhor, tenho a felicidade de andar com meu veículo todos os dias, meio de transporte este que o utilizo para deslocamento trabalho/casa/lazer todos os dias.
Mas como a vida é feita de altos e baixos, e como a maioria dos reles mortais, trabalhadores assalariados e pessoas sem recurso para tal luxo, temporariamente estou utilizando do meio de transporte público de massa (coletivos, ônibus, metrôs), uma vez que pelo mesmo descaso dos governantes meu automóvel foi tomado pela água decorrente das enchentes que atingiram o Recife em abril passado (a população também contribui um pouco quando não tem consciência ambiental e agrava mais ainda o problema). Enquanto aguardo o reparo do mesmo em uma oficina mecânica, sorte minha também que a companhia seguradora cobriu tal conserto. Deram-me a opção de um carro reserva, mas não o fiz por opção mesmo, pois é bom contato com as pessoas de vez em quando. Saber o que se passa…
Eis que, fazia muito tempo que não andava em meios de transporte de massas, onde por opção minha sempre gostei de bicicletas (mais ágil rápido, não poluente), mas com a agravante de que, como nossa cultura não “permite” você freqüentar determinados locais com indumentárias próprias do esporte/transporte ciclístico, tive que optar pelo meio poluente mesmo. E mal pude acreditar como anda o sistema de transporte público de nossa cidade. Deparei-me com surpresas nada agradáveis… enquanto muitos que tem acesso a informação felizmente ascendem socialmente e com freqüência não necessitam mais de tais meios de locomoção, há uma dicotomia onde: muitos dos que vão ler isto aqui tem seus carros, mas temos que prestar atenção ao descaso que está ocorrendo bem debaixo dos nossos narizes. Pois, só lutamos por causas nossas, onde aperta o nó do nosso sapato… mas temos que fazer algo, nem que seja escrevendo, pois quem sabe estimularemos a mudar alguma coisa.
Primeiramente, a mobilidade de nossa cidade anda cada vez pior, depois de vários protestos, inclusive com um pedido de impeachment virtual do nosso prefeito Joao da Costa circulando pela internet, depois do mesmo ser abordado em plena rua por um cidadão que o instigou e sugeriu sobre várias soluções de transito em nossa cidade (onde o referido é advogado, nem engenheiro é), foi que a prefeitura toma alguma atitude: pelo menos foi divulgado nos jornais de nosso Estado que a prefeitura enfim tem um plano para desafogar o trânsito em nossa cidade. Mas em questão de transporte público, nada. Os ônibus, cada vez mais lotados, intervalo de viagens entre um e outro continua o mesmo há anos, onde a demanda aumentou exponencialmente; logicamente houve ganho de lucro para os empresários. A única inovação que vemos é apenas ônibus novos! Os passageiros por falta de educação não respeitam as filas nos terminais, gente subindo pela janela… e por aí vai.
E, o caso mais grotesco e gritante, foi no terminal da Joana Bezerra. Sei que não é caso isolado, outros terminais do grande Recife também refletem situações análogas. Sempre ouvia funcionários meus relatando histórias sobre os ônibus, terminais de integração… mas eu precisei ver para acreditar. Gente se engalfinhando, correndo, o ar condicionado nos trens elétricos foi uma iniciativa louvável da CBTU, mas diante do número de passageiros ser acima da capacidade, o mesmo não dá vencimento. Local para segurar não existe para quem vai em pé, é apenas acompanhar o vai e vem das freadas/arrancadas. São notórios os atentados ao pudor, com “homens” se “esfregando” em mulheres, e não se tem para onde correr… Ao chegar e sair das estações, pessoas se estapeando para poder entrar e sair de dentro dos metrôs. Isso mesmo. Tem que ser na agressão física, pois é uma multidão querendo entrar e outra querendo sair. Quantidade de gente igual a pasmem, um jogo de futebol. Isso eu nem mencionei ainda gestantes, idosos, pessoas portadoras de necessidades especiais… realmente, o piso da estação é alinhado com o metro, no caso de cadeiras de rodas. Mas como o cadeirante vai ter acesso à estação do metrô em horários de pico? Não há saídas de incêndio, de emergência… se acontecer algum fator que se fizesse necessário de escape imediato?
Até mesmo a Justiça do Trabalho do Santa Catarina em decisão recente decidiu que os garis não podem mais andar “pendurados” nos caminhões de coleta de lixo, pois é degradante e desumano tal meio de locomoção. Analisou-se como se é prejudicial um meio de transporte inadequado, onde se reflete em stress, fadiga, baixa produtividade e outros fatores… pelo menos neste caso Boris Casoy até agora não se pronunciou contra a classe. Se formos analisar o tempo gasto em trajetos dentro de nossa cidade, perdemos tempo considerável dentro dos veículos. Não faria melhor a toda uma sociedade um transporte mais humano e decente? Mas como os donos do poder não necessitam de tal serviço público, apenas quer arrecadar impostos e as concessões sabe-se lá como são concedidas, e por que preço paga-se, caminhamos para cada dia um colapso no sistema.
Já dizia Gabriel o pensador, até quando você vai levando porrada?
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